Gravidez na adolescência: jovens pais contam impacto em suas vidas

04/03/2020 17h52

Talk show da campanha do Governo de São Paulo reuniu estudante, jornalista, dona de casa e especialistas para discutir a importância de se evitar a gravidez precoce

 Um susto, seguido de insegurança ao saber que há uma gravidez em curso. O receio de não agradar o parceiro e abrir mão do uso da camisinha. A falta de diálogo em casa, orientação médica adequada e de diálogo entre os parceiros tiveram como fruto uma criança. Estas experiências e circunstâncias distintas foram relatados por um estudante, uma dona de casa e uma jornalista, mas em comum está o fato de todos terem se tornado pais ou mães quando adolescentes.

As vivências discutidas por especialistas nesta terça-feira (03 de março), durante o talk show da campanha “Gravidez na adolescência é para a vida toda”, do Governo do Estado de São Paulo, realizada por meio das secretarias da Justiça e Cidadania (SJC), Educação (SEE) e Saúde (SES).

O evento ocorreu no auditório da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, na cidade de São Paulo, sob o comando das jornalistas Mariana Kotscho e Renata Manreza, apresentadoras do programa Papo de Mãe, da TV Cultura. Em pauta, esteve a discussão sobre a importância de se evitar a gravidez na adolescência.

“As causas e as consequências de uma gravidez na adolescência precisam ser discutida abertamente na sociedade. Engravidar precocemente é um problema de saúde pública”, afirmou o secretário da Justiça e Cidadania, Paulo Dimas Mascaretti.

A médica ginecologista Albertina Duarte Takiuti, coordenadora estadual de Políticas para a Mulher da Secretaria da Justiça e Cidadania e do Programa Saúde do Adolescente, da Secretaria Estadual da Saúde, e a psicóloga Ricarda Maria de Jesus, que atua em um dos centros femininos da Fundação CASA na capital, destacaram que entre os impactos enfrentados pelas jovens que engravidam estão a falta de apoio da família, o abandono do parceiro, a dificuldade do diálogo e da negociação na hora de utilizar o método contraceptivo e a transformação do conhecimento do teórico sobre prevenção em uma prática.

“É como um processo de alfabetização, em que se juntam as letras e se dá o sentido. É preciso juntar o conhecimento com a autoestima e o apoio familiar e da escola para se evitar a gravidez precoce”, afirmou a médica ginecologista. “Quem precisa fazer isto é a família, a escola e a sociedade.”

“Boa parte das famílias não conversam sobre sexualidade e prevenção. É preciso muito diálogo em casa, num diálogo franco e aberto sobre os prazeres e as responsabilidades da vida sexual, sem que haja a necessidade de se assumir muito cedo os encargos de se criar um filho”, avaliou a psicóloga.

Dificuldades que se manifestam em qualquer circunstância da ocorrência de uma gravidez na adolescência, independentemente da classe social. Para a dona de casa Mariana Lima Corado, de 22 anos, foi ter de terminar os estudos com muita dificuldade, contando com o apoio de poucas pessoas. “Fui muito cobrada para ficar cuidando do meu filho”, contou a dona de casa. Moradora do bairro de São Miguel Paulista, no extremo leste da cidade de São Paulo, ela se tornou mãe aos 16 anos e hoje também tem uma menina de 8 meses.

O estudante Lucas Fermino Costa se tornou pai aos 17 anos. Hoje, aos 18 anos, divide os cuidados com o seu filho, de dois meses de idade, com a namorada. Eles vivem juntos e tiveram apoio de seus familiares para enfrentar a responsabilidade de se tornarem pais tão cedo. Tanto Lucas quanto a namorada não abandonaram os estudos.

Já para a jornalista Renata Veneri, cuja filha hoje possui 28 anos, a realidade da maternidade chegou aos 15 anos, sem o apoio do pai da criança, pois viviam em Estados diferentes. Vinda de uma família de classe média, de um pai engenheiro e uma mãe pedagoga, embora divorciados na ocasião, Renata teve apoio da mãe e da avó na criação de sua filha. “Minha vida mudou completamente. Tive com quem contar, especialmente por sermos quatro gerações de mulheres fortes, mas minha avó e minha mãe se preocupavam com o que os amigos e a igreja poderiam pensar”, explicou a jornalista.

YouTubers e campanha

 No evento, o secretário da Justiça e da Cidadania, Paulo Dimas Mascaretti, lançou o concurso “YouTubers Conscientes e a Gravidez na Adolescência”, destinado a alunos da rede pública estadual, com idades entre 12 e 20 anos incompletos. Trata-se de uma seleção de três vídeos, na linguagem dos jovens, sobre prevenção à gravidez na adolescência, a serem veiculados permanentemente no site da campanha, no endereço http://justica.sp.gov.br/index.php/gravidez-na-adolescencia/.

O objetivo é contribuir para o esclarecimento da população infanto-juvenil sobre a importância da prevenção da gestação nessa etapa da vida.

O concurso consiste na apresentação de um vídeo (produto audiovisual), com duração máxima de 03:00 minutos (três minutos). Os adolescentes poderão abordar de forma interdisciplinar – sob os vieses da saúde, educação, sociologia, entre outros – a importância e necessidade de se prevenir a gravidez.

“Fizemos a campanha para falar diretamente com os jovens, na linguagem deles. Começamos a pensar nesta ação em 2019, com o foco em provocar uma reflexão e trazer resultado para a infância e a adolescência”, explicou o secretário da Justiça. “Precisamos falar com a sociedade.”

A campanha, de caráter permanente, é uma alusão à Semana Nacional de Prevenção de Gravidez na Adolescência, instituída pela Lei nº 13.798 de 2019. A iniciativa conta com ações por meio das redes sociais, presenciais e concurso de YouTubers para estudantes da rede pública estadual.

Já está no ar o site da iniciativa, hospedado no portal da Secretaria da Justiça e Cidadania, no endereço eletrônico http://justica.sp.gov.br/index.php/gravidez-na-adolescencia/. Trata-se de um portal tanto informativo e formador para os adolescentes e jovens, como referência de consulta para educadores, inclusive com informações sobre serviços e políticas públicas oferecidas pelo Governo do Estado de São Paulo.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está entre os países latino-americanos com a maior média na região de bebês nascidos de mães adolescentes. No país, a cada mil jovens com idades entre 15 e 19 anos, nascem 68,4 bebês de mães adolescentes,
enquanto na América Latina o índice é de 65,5 bebês de mães jovens a cada mil adolescentes. A média mundial é ainda menor: 46 nascimentos a cada mil.

Apesar de o Estado de São Paulo ter reduzido o número de adolescentes grávidas, em 46,59{566cc9a385eb5c53176b33b2e5256920dc5e2831a279a8f78f8e371482bf4501} entre os anos de 1998 e 2016, ainda são quase 80 mil nascimentos de crianças cujas mães possuem idade entre 10 e 19 anos. Os números mostram a urgência de se abordar a temática, com o envolvimento e a linguagem dos próprios adolescentes, além da participação da comunidade escolar, por meio das escolas públicas estaduais.

Um estudo da Fundação Abrinq, publicado em 2018 e com base em dados federais de 2016, apontou que o índice de evasão escolar das adolescentes com até 19 anos que se tornam mães é maior nas regiões Norte e Nordeste do Brasil quando comparado ao Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Enquanto nestes últimos o índice é de quase um quarto das jovens que deram à luz e não concluíram o Ensino Fundamental, no Norte sobre para 35,9{566cc9a385eb5c53176b33b2e5256920dc5e2831a279a8f78f8e371482bf4501} e no Nordeste, 35,5{566cc9a385eb5c53176b33b2e5256920dc5e2831a279a8f78f8e371482bf4501}. São adolescentes que possuíam apenas de quatro a sete anos de estudo.

Assessoria de Comunicação
Secretaria da Justiça e Cidadania

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